Saudade

Quando o coração aperta...
É porque a ausência se propaga
A saudade cresce
A ausência da sua voz e do seu cheiro
das risadas e dos sorrisos
tudo aumenta
A ausência física
como dói
Sinto falta
de seu olhar carinhoso
seu abraço gostoso
e de seu beijo...
Ah saudade...
É tanta que não cabe no coração.

D.T.B

Rotina

Manhã, sol, zzzzzz. Barulho, trânsito, caos, rua.
Gritos, bate porta, bate, bate, bate porta, barulho.
Assustar, despertar, almoçar.
Tocar, estudar pouco.
Tristeza, dor, amigos e sumiço.
Dor, dor e dor. Rua, carro, trânsito, trabalho
Trabalho, trabalho, trabalho ...
Sonhos, devaneios, pensamentos e mais sonhos, vontades, desejos.
Muito mais trânsito, trabalho
Trabalho, trabalho, trabalho...
Vontades, desejos, sonhos, devaneios, pensamentos e mais sonhos.
Dor, cansaço, sono, tristeza
Noite, carro, estrada
Janta, cansaço, sono
Sonhos, devaneios, sonhos, sonhos e sonhos.
Solidão.

(D.T.B)

Enquanto és...

Canta o amor
mesmo que as cordas apertem
os acordes da guitarra ...
e os ventos velozes passem
sem levar o teu cantar.
Há tantos beijos espalhados
pelo chão em desalinho,
há abraços amontoados
em antebraços, perdidos,
tantos olhares que se perdem
por olhares não merecidos,
tanto doce, tanto mel,
em frascos que estão partidos.

Canta o amor
mesmo que na guitarra
já haja cordas partidas
e a tua voz se lance no abismo,
sem rede, cantando sozinha.
Há tantas vozes que se calam
por não treinarem o canto,
tantos poemas se esquecem
por se lhes esvanecer a cor,
tantas letras e palavras
esquecidas em ruas mudas,
tantos silêncios que matam
a génese, ao desabrochar.

Canta o amor
antes que à fonte
se lhe seque a nascente.
Há tanta água que brota,
que corre à pressa e não cria
o que deveria criar.
Há tanta água que rasga
em vez da terra regar,
há tanto fruto largado
por não se saber saborear.

Canta o amor, enquanto és!…




Adelaide Monteiro

Falo de amor


 
 

Falo de amor
como quem compõe uma sonata
e toca piano, dedilhando teclas.
Falo de amor
como quem toca guitarra
e lhe rouba sons
para uma serenata.


Falo de amor
como quem toca violino,
encostado ao ouvido,
junto ao coração;
vibração de cordas,
vibração de sentidos,
sons tristes, alegres,
sons que são gemidos,
melodia de amor,
dor, perda,
paixão.

 

Falo de amor
como quem lê a partitura,
como quem rege a orquestra,
sempre em vibração;
melodias suaves,
sons que são loucura,
olhos que se olham,
movimentos,
cordas, teclas,
sopro, percussão.



Adelaide Monteiro

E está tão perto


 É  tão longe o tempo
Que de tão longe
Eu não sei se chego.
É longe o mar, é mar  revolto
Revolto, envolto
Em desassossego.
 

É longe o tempo
Em que foi o  tempo
Que de tão longe nele me perdi
É longe o prado, onde me liberto
Florido, amado
 Que eu  não esqueci.

 
É longe o mar, o mar sereno
E sendo longe, se faz tão perto.
Dispo-me do tempo e,
Coberta de espuma
Nas  tuas vagas navego
Aqueço a  pele
Sob um sol ameno.
 

É longe o tempo
Que de tão longe
Ele está tão perto…



Adelaide Monteiro

 

 

Clave de sol

E passou descendo a rua
Levando tudo consigo
Amor, feridas, delírios
Inveja, mentiras
Roubando sonhos, deixando desespero
Criando angústia
Mas a música ainda fica
Transmitindo melodias
caóticas, insanas, mundanas
aliviando almas, amenizando dores
por toda eternidade.

(D.T.B)

Não Posso Escrever...

Não posso mais escrever
Há um coração pedindo para largar a caneta
Por aqui existe um mundo em vez
Dolorida vida sentida que me tira as letras
Esvanecer os dias quando sinto certa falta
Há aqui uma lucidez de estar chegando ao fim
Uma lucidez insana de curar
Um dia de cada vez, por favor.
Uma noite a cada dia, peço.
Se não sou o que é pra ser
Sei que é por não ser o que não sou

Diria que não vale pra ti, mas não quero ter valor
Me deixa cá, estou vivendo sem ter um motivo
Existe fogo aqui, existe morte, existe tudo, e nada.
A doçura de seus beijos me traz a perca de mim em perdê-los...
Não estou dizendo.
Não me diga que o futuro está sorrindo
Me diga que está sorrindo agora.
Estou com perdido numa imensidão da qual, nem mesmo eu conheço.
Vou dizer pra você que vou fugir para qualquer rua...
Com qualquer chuva em meus cabelos
Estarei por lá em qualquer lugar em busca de me arriscar
Riscando.

Não posso mais escrever, a caneta está pedindo.
Minha filha está a correr de mim. A tinta acabou.
Tudo poderia acabar, por aqui.
Fuja comigo, mas deixe-me ir sozinho.

Paixão?

Atração
Ainda existem sentimentos aqui dentro.
Loucura?
Insanidade
Coração insano, sensível
Amor
Minha outra metade ?
Medo.
Arriscar-se
Superar
Tentar.
Que a boca sinta o que o coração diz.

Esquecimento


Um homem sem sobrenome
Quando criança ficou órfão
órfão de pai, órfão de mãe
Órfão de amor.
Toda semana era espera no portão
Longa espera, em vão.
Hoje é pai, esposo
Avô amoroso.
A infância sofrida hoje molha seus olhos
E neles ainda se vê a criança
Criança que a vida acolheu
Criança que o tempo,
O tempo já esqueceu.

(G.M)

(Ao meu aluno, com carinho! )

O seu cheiro foi roubado...

Procuro te entregar: A vida...
Este seu rosto escondido
Não deixa o amor passar
Nessa noite ouvi meu coração
Ele estava na rua a te esperar
Desde aquela noite ele: Desapareceu
Vou buscar o que perdi em ti...
Tu sabes bem que não há vida assim
tu sabes bem que me embriagaria
Sabes?
Busco perder o que não tenho: Pra ela...
Tu sabes que não vivo sem teu amor
Aguardo por seu 'olá...'
Sabes que sei que ainda não acabou

Vou encontrar aqui na gaveta: Aquela Carta...
Vou ler ao vento e esperar
Que as palavras cheguem aos seus ouvidos...
Vou também mandar-lhe um beijo no pescoço
E logo após...
Tu sabes.
Esqueci de dizer que: Não há vida assim
Estou em busca de colorir o tempo
Mas ele não fica parado
E a tinta não o segura: Nesses tempos...
Estou na trilha que me destes
Vou caminhar aqui em meio ao seu cheiro
Cheiro este que as rosas roubaram

Vou perder o perdido...
Vou deixar o que perdi...
Vou encontrar.
Tu sabes: Cá estou.
Sempre estive.
Estou parado na curva de seu amor.
Chegue, mas não me deixe aqui.

Ronival Andrade

Coração despedaçado

Um coração puro sofre, sente amor,
mas sente dor também.
Um coração puro e vazio.
Vazio por causa do sofrimento.
Um coração puro e inundado de tristeza.
Inocência traz dor, nos cega,
pois nos impede de ver a maldade.
E então, o coração sente a dor.
Decepções. Vazio.
Coração puro e solitário, amargurado
Cansado de sofrer.
Coração cheio: espaço para tudo.
Coração vazio: nada mais cabe.
Coração puro, de pessoas sensíveis:
como pessoas sensíveis sofrem nesse mundo difícil;
Selva de pedras, inimizade, desumanidade, desamor.

(D.B)

Ausência

Eu não pensava em te encontrar
Nos caminhos da vida
Mas você apareceu
Me ajudou a superar
Me fez rir, me tirou da tristeza
Mas de repente me fez chorar

Nada é eterno
Tudo é passageiro
O amor acaba
E as amizades também
Viver é aprender
A solidão faz parte
O passado se foi
A lembrança ficou
Sozinho e amargurado
Reaprendi a andar

Você escolheu ficar em silêncio
Minha razão não compreende
E meu coração insiste em me explicar
Mas você insiste no silêncio
E magoar meus sentimentos

O silêncio faz os sonhos acabarem
Destrói projetos, quebra vidas
Nunca mais vou encontrar aquela
Luz em meus sonhos
De solidão vivo a vida
Não quero mais acordar.

(D.B)

Não pregue

Não quero pregar nada
Mas sei que está algo errado
Não quero pregar nada
Mas algo há errado
Não quero pregar nada
Mas Ter não têm que ser mais que Ser
Não quero pregar nada
Mas meu ouro é ver um pássaro voar
Não quero pregar nada
Mas, respeito e compreensão me parecem irmãos siameses.
Não quero e não vou pregar nada.
Mas humano que não vê humano, pode ser ser humano?
Não vou pregar nada...
Minha vida não vale mais que a sua.
Não quero pregar nada, mas tragam-me o martelo.

Ronival Andrade

E lá vai...

Ao olhar em seus olhos
Me perco em sua infinidade
pego o meu perder de seu enigma
Me jogo no labirinto de estar aí
Vou procurar uns dias pra te ver
Vou estar aqui pra te encontrar
E as palavras não conseguem ir até você
Meus dedos não escrevem...
A tinta acaba
Gastei minhas folhas tentando
Perdi madrugadas pra te falar
E hoje é o dia de quem sabe o que...
Vou me perder em qualquer parque
Em meio aos pássaros...
Roubarei o ninho do João de Barro
E farei a morada desse amor...

Ronival Andrade

Vácuo

Dias vazios
horas vazias
amizades vazias
vazio
sem ter com quer conversar
desabafar
rir
dias passando
horas a fio
vida se findando
alegrias da vida?
Não vejo.
Trabalho
amizades
sucesso
não vejo
vejo vazio
tristeza
humilhação
retaliação
sonhos se findarem
se desaparecerem
nada concretizar
mas sumir
música?
alegre-me
ou tente
ajude-me a melhorar minha vida
estado de espírito
dinâmica
mas não consigo
dormir
afundar
sumir
morrer.

(D.B)

Me basta...

E de nostalgia já me basta
E de nostalgia não se vá
E de nostalgia está
Me bastar estar contido numa prosa
contigo, e contigo, e contigo, e contigo...
E tudo o de mal se vá
De presentes estou aqui
Os presentes de todos
A falta que sinto é de perder o tempo
É um sentimento de perca, de tristeza
É um sentimento assim de saudade
É um sentimento de que todos estão comigo
Um perdido se encontrar agora, antes e depois
Se os olhos lacrimejam, é por estar com todos
Por estar com todos nos dias que passaram
Por saber que nos dias que se seguem, estão aí.
E eu cá.
Sentimento de reencontrar
Sentimento de não explicar...
Trazer quem está lá, pra cá.
E me basta, e que eu vá...
Sem licença poética, digo,
Lá está cá, depois de lá não estarei mais cá.

E um dia...

E um dia, olhando pela janela do quarto
Pensei em ser feliz
Em deixar para trás todas às mágoas
Angústias e pessoas que tentaram me abater.
Deixar o vento levar o que tiver sido ruim
Trazer o que for bom
E sonhar, realizar
Sonhar é acordar-se para dentro
E realizar é viver.

(D.B)

Hoje...

Hoje estava deitado na rede
Quando olhando para o céu
Uma formiga voava
Estranhei e quando olhei outa vez
Um formigueiro estava numa nuvem
E naquela nuvem havia toda uma floresta
Os bichos corriam
Os bichos voavam
Os bichos viviam
Me encantei com aquela nuvem de vida
Durante horas meu olhar foi dela
A nuvem era feliz
A vida era feliz
A rede balançava e eu com ela ia
Uma corda arrebentou e cai no chão
Quando olhei pela janela
Passava um avião que destruía a nuvem
Passava uma cidade que destruía...

Ronival Andrade

Tocar


A guitarra grita
fala, geme, agita.
É a expressão da alma
que quer falar e ser ouvida
A mão desenfreada
percorre a escala
as notas saem
e divagam pelo nosso espaço
tocando corações,
trazendo emoções
invadindo a alma
acordes, solos
fraseados, arpejos
melodias, improvisos
tocar apaga a dor
e faz a vida ter um pouco mais de sentido.

(D.B)




Quero suportar

Algo me corta,
me queima,
me corrói,
quase me mata
Dor
Dor física que não passa
que me espeta
que me esfaqueia a cada momento
que não me deixa esquecê-la
dor indominável
abominável
que me faz chorar
para amenizá-la
e esquecê-la
Dor:
saudei-me com sua ausência.

(D.B)

__Não Existe Amor em SP__

Era noite em SP

Noite fria
A rua era a sua moradia
e a vida ardia, adia, de tão vazia
O banco daquele ponto de ônibus lhe servia como aconchego.
O cão a seus pés
e a lua como guia
Eram a sua única companhia.
E na solidão do esquecimento
da cidade cinza
nascerá nele novo dia?

(Glaucia Marinho)

__É__


E o que é o amor?
Desapropriar o rumo e o prumo?
Amor de mãe, de pai, entre irmãos, amigos, entre duas pessoas(ou mais)?O que é o amor?
É estar, ser, viver ou nem saber? O que é o amor?
É agora, depois, nunca mais, em outras vidas, daqui a pouco, logo mais? O que é amor?
Um instante, pra sempre, como nunca, um mês, um ano?
Juntar as escovas, se ver de vez em quando, na igreja, na esquina, ou no metro?
Bagunça, ordem, tumulto, vazio?
Opostos, iguais, homo, ou heterossexuais?
Divino, maléfico, benigno?O que é o amor?
Certo, errado, tudo misturado?
Paixão, tesão, atração, viço, olhar, cheiro e voz?
Nós, a sós, todo mundo?O que é o amor?
Dez mil coisas por segundo, ou um segundo em dez mil coisas?
Tirar o ar pra respirar?
Nem saber dançar, mas mesmo assim dançar?
O que é o amor?
Pode ser e É!

(Glaucia Marinho)

Ausência



O amor deve ser o encanto daqueles nossos dias
Que  tem o cheiro e o gosto dessa solidão.
Te ver agora me parece tão imenso e tão intenso,  mas distante
Distante, mesmo que presente.
A saudade deve ter a cor dos seus olhos e o som da tua ausência...
Glaucia Marinho

Preciso aprender


Uma garota nasceu em meio aos quatis
Uma gigantesca família de quatis
Eles criaram a garota
O nome dela em homenagem aos quatis, era Quais.
Quais vivia pensando
Quais conheceu o mundo
Descobriu a liberdade e os que por ela lutam
Enfim ela lutava por um mundo novo
Alguns (não quatis) viviam armados
Armados com a impossibilidade de aceitar ideias
De respeito
Quais se perguntava como poderia ser livre, não podendo ser uma metamorfose...
Quais procurava entender quais os que não procuravam entender
Quais refletia sobre o mundo.
Quais buscava o sentido de não existir comandantes
Os que lutavam contra comandantes
Queriam na realidade comandar Quais.
Quais ao questionar foi hierarquizada.
Antes de questionar os demais pensadores ela era (bem) vista com bons olhos.
Depois, Quais precisava de papéis para pensar.
Quais era pouco, nada, não podia falar.
Quais subiu num prédio e se atirou.
Durante sua queda viu tudo o que queria ver.
Ciúmes, arrogância, viu a negação de se estar errado.
Encontrou no chão a dura face da realidade.
Quais então pensou e esqueceu o que lhes fizeram
Quais sabia que tudo se tratava de não saber se tratar,
Quais soube que há quem sabe, mas não sabe saber.
Quais vive. Quais é uma faísca de pensamentos não conclusos.
Quais são? Quem são Quais? Quais?
Quais...

Ronival Andrade

Buraco

Vazio, vazio, vazio
tristeza, angústia.
Mente vazia
alma angustiada
dor, tristeza, solidão
vazio.

Solidão, vazio
em um coração vazio
não há espaço
as lágrimas inundam os andares vagos;
o sofrimento inunda o coração.
A palavra amor anda vazia.
Não tem mais gente dentro dela.

Vazio, coração despedaçado
tristeza brotando do silêncio
dor brotando do sofrimento
Vazio. Saudade.

(D.B) 

Minha voz se alegrou...

Minha voz se alegrou...

Comecei uma conversa estranha com minha TV
Dizia ela que ouvia vozes em seu interior.
Passei a assistir mais baixo.
Ela insistiu e disse que ouvia umas vozes ao longe.
Passei a ver no mudo, mas com legendas.
Outra vez ela me questionou dizendo
"Passam letras de costas pra mim".
Tirei as legendas...
Pensava que as queixas haviam acabado quando...
"Vejo imagens ruins e boas, mas as ruins prevalecem".
Por respeito passei a ver "bons programas" e nas horas
que passavam os ruins lia um livro pra mim e para a TV.
Ela então me disse.
"Embora os programas sejam melhores, sem vozes e letras
estranhas, sou mais feliz ouvido sua voz a ler".
Desliguei ela completamente e agora todos os dias faço leituras 
para ela, as vezes reclama ainda, mas está mais feliz, e meu
viver, meu estar vivendo anda, voa e viaja mais livre, mais 
tranquilo, mais sorridente com letras, que me passam e passam...

Ronival Andrade