Sem a minha canção


Olha!
Há primavera lá fora,
há flores a abrir,
terra a parir,...
indiferentes
à falta de palavras no poema

Olha a margaça a falar com a papoila,
o lírio a abraçar a rosa,
a urze a beijar a giesta,
a violeta a crescer na fresta
e a sorrir para os picos de tojo,
indiferente ao picar.

Uma aqui, outra ali,
algumas ou em multidão,
misturam aromas,
desabafam queixumes,
partilham alegrias e prantos
e,
quando de cortinas abertas
olho através da vidraça,
vejo que sem a minha canção,
em harmonia elas nascem,
crescem,
murcham e morrem
sem sentirem solidão



Adelaide Monteiro

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